Seja Bem Vindo ao Universo do Fibromiálgico

A Abrafibro - Assoc Bras dos Fibromiálgicos traz para você, seus familiares, amigos, simpatizantes e estudantes uma vasta lista de assuntos, todos voltados à Fibromialgia e aos Fibromiálgicos.
A educação sobre a Fibromialgia é parte integrante do tratamento multidisciplinar e interdisciplinar ao paciente. Mas deve se estender aos familiares e amigos.
Conhecendo e desmistificando a Fibromialgia, todos deixarão de lado preconceitos, conceitos errôneos, para darem lugar a ações mais assertivas em diversos aspectos, como:
tratamento, mudança de hábitos, a compreensão de seu próprio corpo. Isso permitirá o gerenciamento dos sintomas, para que não se tornem de difícil do controle.
A Fibromialgia é uma síndrome, é real e uma incógnita para a medicina.
Pelo complexo fato de ser uma síndrome, que engloba uma série de sintomas e outras doenças - comorbidades - dificulta e muito os estudos e o próprio avanço das pesquisas.
Porém, cientistas do mundo inteiro se dedicam ao seu estudo, para melhorar a qualidade de vida daqueles por ela atingidos.
Existem diversos níveis de comprometimento dentro da própria doença. Alguns pacientes são mais refratários que outros, ou seja, seu organismo não reage da mesma forma que a maioria aos tratamentos convencionais.
Sim, atualmente compreendem que a síndrome é "na cabeça", e não "da cabeça". Esta conclusão foi detalhada em exames de imagens, Ressonância Magnética Funcional, que é capaz de mostrar as zonas ativadas do cérebro do paciente fibromiálgico quando estimulado à dor. É muito maior o campo ativado, em comparação ao mesmo estímulo dado a um paciente que não é fibromiálgico. Seu campo é muito menor.
Assim, o estímulo dispara zonas muito maiores no cérebro, é capaz de gerar sensações ainda mais potencialmente dolorosas, entre outros sintomas (vide imagem no alto da página).
Por que isso acontece? Como isso acontece? Como definir a causa? Como interromper este efeito? Como lidar com estes estranhos sintomas? Por que na tenra infância ou adolescência isso pode acontecer? Por que a grande maioria dos fibromiálgicos são mulheres? Por que só uma minoria de homens desenvolvem a síndrome?
Estas e tantas outras questões ainda não possuem respostas. Os tratamentos atuais englobam antidepressivos, potentes analgésicos, fisioterapia, psicoterapia, psiquiatria, e essencialmente (exceto com proibição por ordem médica) a Atividade Física.
Esta é a parte que têm menor adesão pelos pacientes.
É dolorosa no início, é desconfortante, é preciso muito empenho, é preciso acreditar que a fase aguda da dor vai passar, trazendo alívio. Todo paciente precisa de orientação médica e/ou do profissional, que no caso é o Educador Físico. Eles poderão determinar tempo de atividade diária, o que melhor se adequa a sua condição, corrige erros comuns durante a atividade, e não deixar que o paciente force além de seu próprio limite... Tudo é comandado de forma progressiva. Mas é preciso empenho, determinação e adesão.

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quinta-feira, 30 de julho de 2020

Uso Racional de Medicamentos: riscos da automedicação

By | 4 de maio de 2020

Por Luciana Cássia Oliveira Barbosa | Formada em Farmácia pela Universidade Federal de Ouro Preto, com habilitação em Análises Clínicas e Farmácia Industrial. Mestre em Farmacologia e Fisiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Possui especialização em Gestão de Saúde Pública e cursa especialização em Farmácia Clínica. Atualmente é Especialista em Políticas e Gestão de Saúde da SES-MG, onde atua na Superintendência de Assistência Farmacêutica com trabalhos na Comissão de Farmácia e Terapêutica e Cuidado Farmacêutico.


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Automedicação e principais riscos


A automedicação é uma prática caracterizada fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu responsável, em utilizar um medicamento sem prescrição médica para tratamento de alguma doença ou alívio de sintomas. Muitas vezes, a correta orientação médica é substituída inadvertidamente por sugestões entre familiares, amigos ou até por conta própria. Além disso, utilizar medicamentos prescritos para tratamento pontual de forma contínua, também se caracteriza como forma de automedicação. Neste sentido, é importante salientar que nesta prática muitas vezes os riscos superam os benefícios.

Os medicamentos são a principal causa de intoxicação no Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz, ficando à frente de produtos de limpeza, agrotóxicos e alimentos danificados.
Além do impacto sobre a vida humana, as reações adversas a medicamentos também influenciam significativamente nos custos despendidos com saúde. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), os hospitais gastam entre 15% a 20% de seus orçamentos para lidar com as complicações causadas pela automedicação, caracterizando um problema de saúde pública.

De forma generalizada, os principais riscos da automedicação são:
• Atraso no diagnóstico correto, devido ao mascaramento dos sintomas;
• Agravamento do distúrbio;
• Alguns medicamentos podem provocar dependência;
• Possibilidade da ocorrência de efeitos adversos que são indesejados e podem ser graves;
• Desconhecimento de interações medicamentosas, uma vez que um medicamento pode anular ou potencializar o efeito de outro.
• Reações alérgicas que podem variar de leves, moderadas a graves,
• Criar resistência a micro-organismos, como no caso dos antibióticos;
• Intoxicações, que podem inclusive serem letais.

Os principais medicamentos utilizados na automedicação são os anti-inflamatórios e analgésicos, para alívio dos sintomas de dor e febre. Como qualquer outro medicamento, no entanto, deve-se atentar aos riscos. Febre alta, dores musculares, dor nos olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo, podem ser confundidas com uma gripe forte, mas também são sintomas de arboviroses como Dengue, Zika e Chikungunya.

Arboviroses e doenças respiratórias


Medicamentos derivados de ácido acetilsalicílico ou sigla AAS são totalmente contraindicados nos casos das arboviroses causadas pelo mosquito Aedes aegypti, porque são anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários e assim, aumentam o risco de sangramentos e hemorragias, pois a coagulação do paciente já está prejudicada pela redução de plaquetas causada pelo ciclo da doença. Além disso, os anti-inflamatórios não hormonais (ou não esteroidais) como o diclofenaco, indometacina, piroxicam, naproxeno, cetoprofeno e o ibuprofeno, por exemplo, são também todos contraindicados, pois também elevam o risco de sangramentos. Por isso, é fundamental evitar a automedicação, procurar um serviço de saúde e seguir rigorosamente as orientações do médico, ficando atento a qualquer alteração no quadro de saúde ao longo do tratamento prescrito.

Nas doenças respiratórias também ocorrem altos índices de automedicação, especialmente com a chegada do inverno. A estação mais fria do ano caracteriza-se pela baixa umidade, resfriamento do ar, proliferação de vírus e consequentemente um perigoso aumento de automedicação. Antitérmicos, analgésicos, anti-inflamatórios e descongestionantes nasais são alguns dos principais medicamentos utilizados sem prescrição médicas nesses casos. Porém, há uma série de riscos envolvidos, a saber:

• Analgésicos e anti-inflamatórios: o uso indiscriminado pode agravar problemas gástricos, ter ação anticoagulante, provocar hemorragias, prejudicar pacientes com problema cardíaco ou renal e agravar a hipertensão.
• Antitérmicos: pacientes com reação alérgica, ao usar o antitérmico, podem sofrer edemas (inchaço) da glote, impedindo a passagem de ar para os pulmões, e coceira.
• Descongestionantes nasais: quando usados constantemente podem causar taquicardia, elevação da pressão arterial, dependência e rinite medicamentosa.
Há riscos também nas doenças respiratórias crônicas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a asma. O manejo inadequado destas doenças acarreta prejuízos à qualidade de vida dos pacientes e produz custos evitáveis para o sistema de saúde.

As hospitalizações por asma e DPOC seguem entre as principais causas de internação, com projeções de aumento da carga para os serviços de saúde pública. A piora de sintomas ou a frequência de exacerbações nem sempre indicam a progressão da doença, mas pode indicar tratamento inadequado, seja pelo uso de medicamentos sem prescrição médica com possíveis interações medicamentosas ou ainda pouca adesão ao tratamento. Entre os fármacos disponíveis, aqueles administrados via dispositivos inalatórios constituem o tratamento de primeira escolha e devem ser corretamente utilizados. Neste âmbito, persiste o desafio de identificar e desenvolver estratégias educativas para garantir êxito no controle e manejo das doenças respiratórias com uso dos medicamentos inalatórios.
Na tentativa de minimizar os problemas causados pela automedicação, os pacientes devem considerar exclusivamente as orientações de profissionais habilitados e após um diagnóstico seguro. No caso de eventuais dúvidas na utilização de qualquer medicamento, consulte sempre o seu médico ou farmacêutico. A automedicação pode trazer sérios riscos à saúde.

Referências:
MATOS JF et al, Prevalência, perfil e fatores associados à automedicação em adolescentes e servidores de uma escola pública profissionalizante – Cad. saúde colet. vol.26 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2018
ARRAIS P S D. et al.; Perfil da automedicação no Brasil- Rev. Saúde Pública vol. 31 no. 1 São Paulo Feb. 1997
BORTOLETTO, M. E.; BOCHNER, R. Impacto dos medicamentos nas intoxicações humanas no Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 859-869, out./dez. 1999.
OLIVEIRA P D et al., Uso de inaladores na população de adolescentes e adultos com diagnóstico médico autorreferido de asma, bronquite ou enfisema em Pelotas, RS- Jornal Brasileiro de Pneumologia, Pelotas, 2013;v. 39(, n.3):287-295
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Doenças respiratórias crônicas / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010.
Sites:
http://portal.anvisa.gov.br/resultado-de-busca?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&_101_struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_content&_101_assetEntryId=402812&_101_type=content&_101_groupId=33868&_101_urlTitle=informe-snvs-anvisa-ufarm-n-2-de-1-de-dezembro-de-2003&inheritRedirect=true Acesso em: 24/04/2020
https://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/riscos-da-automedicacao-crescem-com-aumento-de-doencas-respiratorias-no-inverno-19564075.html Acesso em: 27/04/2020

texto original
http://blog.saude.mg.gov.br/2020/05/04/uso-racional-de-medicamentos-riscos-da-automedicacao/


Uso indiscriminado de remédios pode esconder sintomas de doenças graves


Anti-inflamatórios, que também são encontrados nas fórmulas dos antigripais, são muito prejudiciais para os rins e para o fígado, alerta médico


Muitas pessoas acreditam que medicamentos comprados sem receita médica são totalmente seguros. Entretanto, isso está longe de ser verdade, pois qualquer medicamento possui algum tipo de risco, conta Daphnne Camaroske Vera, nefrologista da BP (A Beneficência Portuguesa de São Paulo). "Entre os grupos de maior risco e possibilidades de sentir os efeitos colaterais da automedicação estão os idosos, gestantes, lactantes, crianças e portadores de insuficiência renal e hepática", afirma a especialista.

Nesse sentido, o uso indiscriminado de determinadas substâncias pode acarretar a ocultação de sintomas de enfermidades mais graves. "Os anti-inflamatórios, que também são encontrados nas fórmulas dos antigripais, são muito prejudiciais para os rins e para o fígado, principalmente em pacientes portadores de alguma doença prévia nesses órgãos. Já os laxantes utilizados em constipação grave podem levar a uma ruptura das alças intestinais e o uso em idosos pode levar à desidratação", explica a especialista.

Não fosse suficiente, existe ainda o risco de interação medicamentosa, que pode diminuir ou potencializar o efeito de um determinado remédio sobre o outro. Um exemplo comum disso é o uso de antibióticos, que podem reduzir a eficácia contraceptiva de medicamentos anticoncepcionais. "Um ponto importante, principalmente para pessoas que tomam antibióticos que já têm em casa, é que o uso desses remédios, se administrados de maneira errada em tempo e dose, possibilita o aparecimento das superbactérias resistentes a diversas classes de antibióticos. Remédios antidepressivos e calmantes também podem levar à dependência física da medicação", reforça a nefrologista.

A maioria dos antibióticos precisa ter a dose reduzida para pessoas portadoras de insuficiência renal ou hepática. "A deficiência nesses órgãos mantém a medicação circulante na corrente sanguínea por mais tempo e, por isso, o ajuste na dose é importante para que o paciente não receba uma quantidade superior daquela necessária", conta Daphnne.

A automedicação é uma prática que deve ser evitada, pois pode prejudicar o funcionamento dos órgãos no geral. "Antes de tomar qualquer medicamento é necessário consultar o médico sobre a segurança e a dosagem certa da medicação. Além disso, é preciso informar o especialista sobre todos os remédios de que faz uso, a fim de conhecer possíveis interações prejudiciais à saúde", finaliza a especialista.


texto original



segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Excesso de vitaminas é um risco: pode levar à morte

Excesso de vitaminas | Entrevista

Excesso de vitaminas | Entrevista
Maria Helena Varella Bruna
Publicado em: 21 de janeiro de 2012
Revisado em: 18 de outubro de 2019


Embora sejam essenciais para a sobrevivência humana, a suplementação vitamínica é quase sempre desnecessária. Os alimentos naturais fornecem a quantidade de que o organismo precisa e o excesso de vitaminas pode ser prejudicial à saúde. 

As vitaminas são conhecidas há muito tempo e o conceito de que são absolutamente necessárias para a saúde perfeita faz parte da tradição popular. Todos nós, muitas vezes na vida, ouvimos dizer  “coma essa fruta, porque tem muita vitamina”, ou que vitamina C é um santo remédio para gripes e resfriados ou, ainda, que algumas vitaminas ajudam a retardar o envelhecimento.
Na época das caravelas que se dirigiam ao Novo Mundo, os marinheiros tinham escorbuto, uma doença provocada pela carência de vitamina C e que se manifestava quando eles deixavam de comer alimentos frescos, como frutas e verduras.
Como se vê, o apelo para o consumo de vitaminas é forte, vem de longe e acabou criando uma cultura, que poderia ser chamada de vitaminocultura, em função da qual muitas pessoas tomam desnecessariamente e sem critério grande quantidade desses micronutrientes todos os dias. Logo no café da manhã, são oito, dez, doze comprimidos de uma só vez, na esperança de ficarem mais saudáveis, fortes e rejuvenecidas. Embora sejam essenciais para a sobrevivência humana, a suplementação vitamínica é quase sempre desnecessária. Os alimentos naturais fornecem a quantidade de que o organismo precisa.

FUNÇÃO DAS VITAMINAS


Drauzio –­ Qual é a função das vitaminas no organismo?
Alberto de Macedo Soares – As vitaminas desempenham papel fundamental na constituição, elaboração e resposta das células que constituem nosso organismo, principalmente no que diz respeito às enzimas, substâncias que adiantam ou retardam uma reação orgânica. Organismo sem vitamina é organismo falido, não funciona de forma adequada. Por isso, as vitaminas presentes nos alimentos naturais são fundamentais para a sobrevivência humana.

Drauzio – Todos os alimentos naturais contêm vitaminas?
Alberto de Macedo Soares – Nem todos, mas as frutas e as verduras são os que mais contêm vitaminas em sua composição.

Drauzio – Uma dieta variada que inclua duas ou três porções de verdura e duas ou três porções de frutas por dia fornece a quantidade de vitaminas de que a pessoa necessita?
Alberto de Macedo Soares – Sem dúvida nenhuma. A grande maioria das pessoas com ingesta diária de frutas e verduras não precisa acrescentar nenhum tipo de vitaminas vendido nas farmácias.

VITAMINAS X RADICAIS LIVRES


Drauzio – Há um tipo de medicina chamado de ortomolecular que atribui às vitaminas papel antioxidante. A justificativa é que, nas reações normais para manter o metabolismo, nós produzimos radicais livres de oxigênio, ou seja, átomos altamente instáveis e reativos de oxigênio com número ímpar de elétrons na órbita externa, que oxidariam os componentes celulares. Como você vê a relação dos antioxidantes com as vitaminas?
Alberto de Macedo Soares – Nos processos inflamatórios, infecciosos e de exposição à radioterapia, ocorre uma produção exacerbada de radicais livres, o que fatalmente cria maior suscetibilidade e leva dano ao DNA e ao RNA. Além disso, doenças como catarata e hipertensão, por exemplo, também podem acarretar aumento na produção de radicais livres.
Testes in-vitro, dentro do laboratório, revelaram que as vitaminas exercem função inibitória na produção excessiva de radicais livres. Porém, quando se tentou aplicar essa experiência em seres humanos, verificou-se que o resultado não é o mesmo. Ao contrário – e temos insistido muito nesse sentido -, a possibilidade de as pessoas produzirem radicais livres aumenta com o uso de vitaminas. Isso mostra que o organismo humano é muito mais complexo do que qualquer ensaio laboratorial.

Drauzio – Está demonstrado que vitaminas em excesso aumentam a produção de radicais livres?
Alberto de Macedo Soares – Esse aumento de produção já vinha sendo observado desde o começo dos estudos e, hoje, na prática, estamos vivenciando o estrago que os trabalhos indicam e indicavam. Por exemplo, estudo científico realizado com betacaroteno, um precursor da vitamina A, para prevenir câncer de pulmão em fumantes, apontou que seu consumo fez crescer o número de casos da doença nos usuários.

Drauzio – Há dois trabalhos, um dinamarquês e outro nos Estados Unidos, com enorme casuística, que não deixam dúvida sobre essa ação do betacaroteno.
Alberto de Macedo Soares – São trabalhos multicêntricos, que envolvem milhares de pessoas e atestam o mesmo resultado.

Drauzio – Apesar disso, às vezes, pessoas saudáveis recebem orientação para tomar multivitaminas, entre elas betacaroteno, embora sejam fumantes.
Alberto de Macedo Soares – Isso é um erro. É uma conduta totalmente proscrita do ponto de vista científico.

E NÃO FIZER BEM…


Drauzio – Como os geriatras veem a ingestão excessiva de vitaminas?
Alberto de Macedo Soares – A Sociedade Brasileira de Geriatria vê com preocupação não só as correntes ortomoleculares, que propagam o uso de vitaminas e de antioxidantes em larga escala, mas também vê com preocupação as academias e outras sociedades ditas de “antienvelhecimento” (aliás, eu queria entender o que significa antienvelhecimento, pois, na minha concepção como geriatra, o único jeito de não envelhecer, é morrer precocemente). Por essa razão,  tem pedido o respaldo dos conselhos regionais e a punição devida, uma vez que o Conselho Federal de Medicina, no artigo 13, coloca como proibido o uso indiscriminado de megadoses de vitaminas. Entretanto, apesar do empenho, todos os dias recebemos pacientes que dizem: “Doutor, o meu café da manhã são oito comprimidos de vitaminas”, sem saber que com isso estão se expondo a riscos absolutamente desnecessários.

Drauzio – Muitas pessoas partem do princípio que, se vitamina não fizer bem, mal também não faz.
Alberto de Macedo Soares – Essa história de que vitamina, se não fizer bem, mal não faz, não procede. Como você bem colocou, antigamente, a tripulação dos navios tinha carência de vitamina C e desenvolvia escorbuto, uma doença que provoca sangramentos, porque os marinheiros passavam muito tempo em alto mar sem ingerir alimentos frescos. Hoje, porém, trabalhos mostram que a retirada abrupta de megadoses de vitamina C pode provocar um quadro semelhante ao de escorbuto, além de cálculo nos rins e distúrbios gastrintestinais.

VITAMINA C


Drauzio – Linus Pauling afirmava categoricamente que as pessoas deveriam tomar megadoses de vitamina C, dez gramas por dia pelo menos. Como recebeu dois prêmios Nobel (um de Bioquímica, porque fez um trabalho muito importante nessa área, e um prêmio Nobel da Paz) e era um grande cientista, sua recomendação tinha força especial. Na verdade, porém, Linus Pauling não era médico, nunca tinha estado com um doente em sua frente. Mesmo assim, os laboratórios multinacionais que produzem vitamina C fazem propaganda sugestiva afirmando que essa vitamina melhora a resistência física e ajuda a curar gripes e resfriados. Há fundamento científico para o uso de megadoses de vitamina C?
Alberto de Macedo Soares – Nossa necessidade diária de vitamina C é um e meio miligrama, uma porção infinitamente menor do que os dez gramas que indicava Linus Pauling para a prevenção do câncer. É público que, quando inquirido sobre o tumor de próstata que desenvolveu, mesmo tomando altas doses dessa vitamina, sua resposta foi que graças a ela tinha conseguido postergar o início da doença.
Atualmente, a medicina está baseada em evidências que surgem como resultado de megaestudos e envolvem milhares de pacientes. Não dá mais para considerar relatos de casos isolados, nem o “eu acho”, “tenho dois pacientes que melhoraram”, nem a experiência do vizinho.
Drauzio – Existem evidências de que a  vitamina C deva ser usada nas gripes e resfriados, doenças muito prevalentes e responsáveis, provavelmente, pelo maior consumo dessa vitamina?
Alberto de Macedo Soares – Não há. Aliás, um jargão difundido no tempo de nossos avós era: gripe, vitamina C e cama. Hoje, o geriatra não prescreve vitamina C e muito menos cama nos casos de gripe e resfriado. Vitamina C, porque as evidências são muito controversas nos pacientes imunocomprometidos, e colocá-los de cama pode representar fator predisponente para a pneumonia.
Em suma, a conclusão das sociedades de geriatria é que, na imensa maioria dos casos, não há a menor evidência de que a vitamina C deva ser indicada, apesar de ter demonstrado ação antioxidante nos tubos de ensaio, uma vez que essa resposta não ocorre nos seres humanos.

Drauzio – Você mencionou que o excesso de vitamina C pode provocar cálculos renais.
Alberto de Macedo Soares – Não só cálculos renais, mas distúrbios gastrintestinais e incômodo na bexiga porque acidifica a urina e isso provoca irritação.

VITAMINA E


Drauzio – Quais as consequências do uso excessivo da vitamina E?
Alberto de Macedo Soares – O que vemos, na prática da clínica, é que a vitamina E pode causar alterações na coagulação, distúrbios gastrintestinais, dor de cabeça crônica. Recentemente, dois estudos grandes mostraram que a vitamina E, largamente utilizada como coadjuvante no tratamento do mal de Parkinson e, em associação com outros medicamentos, nos portadores de Alzheimer como incrementadora da memória, não apresenta os efeitos apregoados e não deve mais ser prescrita para esses pacientes.

Drauzio – Recentemente, foi publicado um trabalho realizado por uma revista cientifica que condena o uso de vitamina E. Você poderia explicá-lo?
Alberto de Macedo Soares – Em 2005, causou grande impacto um trabalho sobre a vitamina E publicado pela revista americana Annuals of Internal Medicine, que avaliou os 19 maiores estudos a respeito dessa vitamina realizados nos últimos anos, e que incluíram quase 140 mil pacientes. A conclusão foi que a vitamina E deve ser abolida do receituário médico porque pode aumentar o índice de mortalidade.

INDICAÇÕES CORRETAS


Drauzio – Há situações em que as vitaminas devam ser indicadas?
Alberto de Macedo Soares – Existem algumas situações em que elas devem ser indicadas. É o caso da carência da vitamina B12, que pode provocar déficit de memória. Por exemplo: às vezes, depois de uma cirurgia de estômago ou de uma dieta alimentar inadequada, a pessoa começa a dar sinais de esquecimento e a família interpreta o fato como início da doença de Alzheimer. Essa é uma situação em que o paciente precisa ser avaliado para verificar se não está com deficiência de vitamina B12 no organismo, o que é feito por meio de uma simples coleta de sangue. Se estiver, é indicada a reposição dessa vitamina, na forma de injeções para facilitar absorção, durante algum tempo.
Outro exemplo é o da indicação de vitamina D para os portadores de osteoporose. Sabemos que a associação de vitamina D e cálcio altera a densidade dos ossos, pois ajuda a fabricar tecido ósseo.

Drauzio – Você acha que se deveria indicar vitamina D e cálcio para todas as mulheres que entram na menopausa?
Alberto de Macedo Soares – A associação de vitamina D e cálcio está indicada para pacientes com osteopenia. A menopausa é um dos fatores precursores da osteoporose, porque a menor produção de estrógeno, promove perda de massa óssea sem reposição suficiente, uma vez que os ossos se destroem e se formam a cada três meses. Então, no período de perimenopausa, diante de um exame de densitometria que mostre perda de densidade óssea característica não da osteoporose, mas da osteopenia, deve-se indicar a reposição de vitamina D e cálcio.

Drauzio – De qualquer modo, essa reposição não deve ser feita indiscriminadamente.
Alberto de Macedo Soares – Não indiscriminadamente. Na verdade, quanto menos medicamentos a pessoa tomar melhor. Essa é uma postura razoável, principalmente com os idosos que já fazem uso de uma polifarmácia, porque muitos têm pressão alta, colesterol elevado, artrose, problemas de estômago.

Drauzio – Para suprir a necessidade de cálcio, quanto de leite e derivados a pessoa deve ingerir por dia?
Alberto de Macedo Soares – As sociedades que lidam com ortopedia e geriatria preconizam 1,5g de cálcio por dia, o que reverte numa quantidade de alimentos que nem sempre a pessoa consegue ingerir. Por isso, muitas vezes, a reposição de cálcio tem de ser feita com comprimidos e suplementação farmacológica.

Drauzio – Quantos copos de leite correspondem a um grama e meio de cálcio?
Alberto de Macedo Soares – Seriam 12 copos de leite. Só que a pessoa não precisa tomar apenas leite. Se tomar quatro copos, comer duas fatias de queijo e brócolis, por exemplo, que tem bastante cálcio, estará reforçando a ingesta e beneficiando-se com isso.

USO NA ADOLESCÊNCIA E NA VELHICE


Drauzio – Acho que em dois momentos da vida se concentra mais o conceito da necessidade das vitaminas. Um é na adolescência, fase de crescimento, pois as mães temem que os filhos não consigam obter a quantidade suficiente de micronutrientes com a alimentação. A outra é na velhice. Nessas fases, o uso de vitaminas deve ser indicado? 
Alberto de Macedo Soares – Não é alvo da sociedade de geriatria verificar o uso de vitaminas na adolescência, mas a prática nos mostra que, muitas vezes, nessa idade, a suplementação não é contínua. Além disso, em geral, o adolescente não precisa tomar vitaminas, porque conta com um fator de proteção muito maior que é a atividade física. Ele é obrigado a fazer exercícios na escola e, em geral, frequenta academias.
O que vemos com preocupação, porém, – e aproveito a oportunidade para deixar um alerta – é que, nas academias, os adolescentes estão fazendo uso absolutamente equivocado de megadoses de vitaminas, de diuréticos e de hormônios. O resultado é que acabam tornando-se hipertensos aos 18, 20 anos de idade.
No que se refere aos idosos, na há coisa pior para o geriatra do que atender uma pessoa com estado geral comprometido e necessitando de um tratamento específico porque é portadora de uma doença, que está tomando vitaminas em doses altas prescritas durante uma consulta num serviço de saúde. Em tais casos, há dois aspectos prejudiciais a considerar. Número um: além de não se beneficiar em nada com as doses altas de vitamina, o idoso está se expondo a vários outros riscos. Número dois: a doença de que é portador deixa de ser tratada como deveria.
Muitas vezes, é a família preocupada que encaminha o idoso debilitado a profissionais de ética questionável que identificam carência disto ou daquilo pelo exame de um fio de cabelo ou de uma gota de sangue. Na verdade, o teste do cabelo só perde para o do dedinho.

Drauzio – Como é feito o exame do cabelo?
Alberto de Macedo Soares – Um fio de cabelo, retirado normalmente da região occipital, é mandado para os Estados Unidos, onde é feito um mineralograma do paciente para mapear suas carências e propor tratamento adequado.

Drauzio – O curioso é que parece sempre estar faltando selênio.
Alberto de Macedo Soares – Embora selênio seja um dos oligoelementos muito estudados na prevenção do infarto, um grande estudo mostrou que seu uso não traz benefícios.

Drauzio – E o teste do dedinho, como é feito?
Alberto de Macedo Soares – A pessoa vai ao consultório de um médico, volto a dizer, de ética questionável, que lhe retira uma gota de sangue do dedo e coloca-a numa lâmina para ser examinada no microscópio, o que torna possível ver as impurezas e os radicais livres andando de um lado para outro. Os pacientes se assustam, mas não podemos criticá-los por isso. Temos é de pedir aos conselhos regional e federal de farmácia uma atitude firme para inibir esse tipo de conduta.
Brecar o envelhecimento é uma proposta sedutora, mas inviável e inacessível.  Cabe-nos procurar envelhecer com qualidade de vida, com saúde, sem buscar medidas discutíveis e não comprovadas para retardar um processo absolutamente natural do organismo.

TRATAMENTOS MILAGROSOS


Drauzio – Qual é a sua posição a respeito de três tratamentos que dizem retardar o envelhecimento: as vitaminas, geralmente importadas e caríssimas que são aplicadas por via endovenosa, o ginkgo biloba e a procaína?
Alberto de Macedo Soares – São três tratamentos que as sociedades de geriatria não respaldam. Vamos começar pela infusão endovenosa de vitaminas. Na grande maioria das vezes, elas são administradas sem a menor necessidade. Raríssimas são as exceções em que a pessoa pode precisar de um suplemento vitamínico, mas nunca sob o pretexto de prevenir o envelhecimento. E tem mais: além de caríssimas, essas vitaminas costumam ser associadas a medicamentos que o Conselho Regional de Medicina proibiu a utilização.
O extrato de ginkgo biloba era indicado com a função de melhorar a memória. Infelizmente, está provado que não possui esse efeito, mas funciona para  controlar o zumbido crônico no ouvido, em certos casos. Assim como a osteoartrose pode acometer algumas áreas do corpo, alterações podem ocorrer nos ossículos do ouvido médio e produzir um som bastante desagradável.
Embora parcela importante dos pacientes se beneficiem com esse medicamento, ele não serve para todos os casos de zumbido e seu uso requer acompanhamento médico. Por quê? Porque nenhum remédio é inócuo e a gingko biloba pode exercer uma ação potencializadora e provocar sangramentos, principalmente, nos pacientes que tomam antiadesivos plaquetários, a aspirina por exemplo. Se a pessoa tomar anticoagulantes, então, pode ter sangramento mais intenso, uma hemorragia.
O uso de procaína é o mais condenado pela Sociedade de Geriatria. Quando me perguntam qual a situação em que ela deve ser indicada para um paciente, respondo: nenhuma. E não sou só eu. O Food and Drug Administration (FDA)um dos órgãos mais sérios no controle dos medicamentos, até hoje não autorizou nem liberou o uso de procaína, um anestésico que era utilizado pelos dentistas. Atualmente, nem isso. Eles encontraram coisa melhor.
No entanto, como a procaína tem discreta ação inibidora de uma enzima chamada monoamidoxidase, provoca certa sensação de euforia. A mídia volta e meia mostra relatos de pessoas que fizeram uso dessa droga e afirmam ter sentido a vida mudar. Sem contar o efeito placebo, uma vez que 30% dos portadores de uma doença melhoram tomando um comprimido de água e farinha, há pessoas que se dispõem a gastar US$ 4.000 a cada seis meses para fazer uso de uma substância de eficácia absolutamente não comprovada.
Pior ainda: a procaína tem sido descrita como medicamento que pode levar a distúrbios gastrintestinais, psiquiátricos, à confusão mental e até à convulsão. Por isso, não é indicada no Hospital das Clínicas, na Escola Paulista de Medicina, na Santa Casa de São Paulo, na Faculdade de Medicina de Santos, instituições que servem de centro de referência, porque congregam profissionais que lutam para manter-se atualizados.

Quem é Maria Helena? Maria Helena Varella Bruna é redatora e revisora, trabalha desde o início do Site Drauzio Varella, ainda nos anos 1990. Escreve sobre doenças e sintomas, além de atualizar os conteúdos do Portal conforme as constantes novidades do universo de ciência e saúde.

Suplementos vitamínicos podem ser perigosos

Suplementos vitamínicos podem ser perigosos

Estudos trazem alerta sobre o uso indiscriminado de suplementos vitamínicos.

Mariana Varella
Publicado em: 9 de abril de 2014
Revisado em: 18 de outubro de 2019

Pílulas de diversas cores sobre uma mesa.


A indústria das vitaminas e suplementos cresce a cada ano, gerando lucro de bilhões de dólares anualmente. Mas será que eles são mesmo benéficos ou podem fazer mal à saúde?
As publicações científicas americanas “Annals of Internal Medicine” e “Medscape” publicaram dois estudos e um editorial a respeito da relevância do uso de multivitamínicos no tratamento de doenças crônicas.
O primeiro estudo foi multicêntrico, duplo-cego, placebo-controlado e randomizado e incluiu mais de 1700 pacientes com 50 anos ou mais. Todos haviam sofrido ataque cardíaco recentemente. Os pacientes foram divididos em três grupos: um recebeu multvitamínicos, outro complexo de minerais e o terceiro, placebo, e todos foram acompanhados por quase 3 anos. Os resultados mostraram que as vitaminas extras não protegeram o coração e não pareceram proteger contra eventos cardiovasculares secundários.
O segundo estudo observou os efeitos das vitaminas na cognição e, para isso, acompanhou quase 6 mil médicos do sexo masculino com 65 anos ou mais por 12 anos. Nesse estudo foram conduzidas avaliações cognitivas iniciais e intermitentes. Chegou-se à conclusão que o uso de vitaminas não desacelerou a perda cognitiva e não trouxe mudança nos índices de memória verbal nem na cognição daqueles que tomaram vitaminas em comparação com os que não tomaram.

A revisão de 26 estudos que observam os prós e contras do uso de suplementos na prevenção de doença cardíaca, câncer e morte não encontrou evidências de benefícios no uso de vitaminas.
Conclusão: Adultos bem nutridos não precisam de suplementos vitamínicos. Além de não haver benefícios claros em seu consumo, eles podem fazer mal e não devem ser usados para tratar doenças crônicas.
E mais: o editorial menciona o perigo de se consumir especificamente beta-caroteno, vitamina E e altas doses de vitamina A. O beta-caroteno aumenta o risco de câncer de pulmão em fumantes; suplementos com vitamina E foram relacionados a aumento de mortalidade por todas as causas.
Há uma exceção: a vitamina D. Como o papel da suplementação da vitamina D ainda é tema de investigação, especialmente para quem tem deficiência dessa vitamina, são necessários mais estudos para se chegar a uma conclusão a respeito. Contudo, mesmo quanto à vitamina D, não há evidência concreta de que seus benefícios superem os malefícios.
Apenas um grupo necessita de suplementação de vitamina: as mulheres que pretendem ou podem engravidar. Para elas, a suplementação de ácido fólico é importante porque previne defeitos no tubo neural do feto.
Mariana Varella é editora do Portal Drauzio Varella. Formada em Ciências Sociais pela USP, atua na área de jornalismo de saúde, com foco em saúde da mulher. @marivarella
Texto original

domingo, 22 de março de 2015

AUTOMEDICAÇÃO - UM RISCO QUE VOCÊ NÃO PRECISA CORRER




Este assunto é um dos nossos "arqui-inimigos", no nosso dia a dia nas páginas de nossos grupos no Facebook.
Fazemos inúmeros alertas, mas o hábito do povo brasileiro ... Facilitado pelos Laboratórios e pelo Governo e seus Órgão responsáveis que autorizam a venda de maneira simples e rápida - Para tapar lacunas de sua Responsabilidade que colocam em risco de morte todo cidadão que dela faz uso.
Nosso trabalho também inclui a Responsabilidade Social. E dentro dela, faz-se necessário alertar sobre os riscos desta prática, infelizmente, tão comum em nossa Sociedade.
Saibam que a mistura entre uma erva e uma determinada medicação pode ressaltar os efeitos colaterais, deixar de fazer o efeito esperado, ou mesmo nos casos mais críticos, levar a morte.
Podemos aqui também citar o Mercado Negro de Medicamentos, mesmo para os medicamentos que necessitam de receituário médico.
Inúmeras matérias a Mídia existem, abordando este tipo de prática também. Um desserviço à sociedade em geral.
Nada substitui a consulta médica - sejam médicos adeptos a alopatia, ou a homeopatia, a fitoterapia, entre outras reconhecidas cientificamente.   
Abaixo, publicamos um artigo, de 2001 que é atemporal, que fez parte da 

Rev. Assoc. Med. Bras. vol.47 no.4 São Paulo Oct. / dezembro 2001

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302001000400001 


AUTOMEDICAÇÃO



A automedicação é uma prática bastante difundida não apenas no Brasil, mas também em outros países. Em alguns países, com sistema de saúde pouco estruturado, a ida à farmácia representa a primeira opção procurada para resolver um problema de saúde, e a maior parte dos medicamentos consumidos pela população é vendida sem receita médica. Contudo, mesmo na maioria dos países industrializados, vários medicamentos de uso mais simples e comum estão disponíveis em farmácias, drogarias ou supermercados, e podem ser obtidos sem necessidade de receita médica (analgésicos, antitérmicos, etc).




Debate-se se um certo nível de automedicação seria desejável, pois contribuiria para reduzir a utilização desnecessária de serviços de saúde. Afinal, dos 160 milhões de brasileiros, 120 não têm convênios para assistência à saúde.

A decisão de levar um medicamento da palma da mão ao estômago é exclusiva do paciente. A responsabilidade de fazê-lo depende, no entanto, de haver ou não respaldo dado pela opinião do médico ou de outro profissional de saúde.

Para encurtar os caminhos para a obtenção do alívio dos incômodos que o afligem, em inúmeras ocasiões, diante de quaisquer sintomas, especialmente os mais comuns como aqueles decorrentes de viroses banais, o brasileiro se vê, de pronto, impulsionado a utilizar os medicamentos populares para gripe, febre, dor de garganta, etc; ou a procurar inicialmente orientação leiga, seja dos amigos íntimos ou parentes mais experientes ou até mesmo do farmacêutico amigo, à busca de solução medicamentosa ("vou lá na farmácia do Sr. Paulo para tomar uma injeção para gripe"). A mídia televisiva e vários outros meios de comunicação e propaganda como o rádio ou "outdoors" insistem com seus apelos a estimular a todos a adotar tal postura, inserindo no final da propaganda a sua tradicional frase "persistindo os sintomas um médico deve ser consultado", como se isso os isentasse de toda e qualquer responsabilidade. Antes esta advertência do que nenhuma.

No Brasil, embora haja regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para a venda e propaganda de medicamentos que possam ser adquiridos sem prescrição médica, não há regulamentação nem orientação para aqueles que os utilizam. O fato de se poder adquirir um medicamento sem prescrição não permite o indivíduo fazer uso indevido do mesmo, isto é, usá-lo por indicação própria, na dose que lhe convém e na hora que achar conveniente. Dados europeus indicam que, em média, 5,6 pessoas por farmácia e por semana fazem uso indevido de algum tipo de medicamento.

Em nosso país, a extensão da automedicação não é conhecida com precisão, mas apenas em caráter anedótico ou por meio de levantamentos parciais e limitados. A Pesquisa por Amostragem Domiciliar de 1998 do IBGE oferece alguns elementos de informação. Entre as pessoas que procuraram atendimento de saúde, cerca de 14% adquiriram medicamentos sem receita médica; percentual que parece muito subestimado, talvez em função da pesquisa não ter sido desenhada com a finalidade de avaliar a automedicação.

As razões pelas quais as pessoas se automedicam são inúmeras. A propaganda desenfreada e massiva de determinados medicamentos contrasta com as tímidas campanhas que tentam esclarecer os perigos da automedicação. A dificuldade e o custo de se conseguir uma opinião médica, a limitação do poder prescritivo, restrito a poucos profissionais de saúde, o desespero e a angústia desencadeados por sintomas ou pela possibilidade de se adquirir uma doença, informações sobre medicamentos obtidos à boca pequena, na internet ou em outros meios de comunicação, a falta de regulamentação e fiscalização daqueles que vendem e a falta de programas educativos sobre os efeitos muitas vezes irreparáveis da automedicação, são alguns dos motivos que levam as pessoas a utilizarem medicamento mais próximo.

A associação de saúde como uso de medicamentos faz com que os pacientes abusem das drogas. Os profissionais da área de saúde devem orientar os pacientes e os seus familiares no sentido de evitar os abusos dos medicamentos ("overuse") pelos eventos adversos. Com o fator limitante do tempo, há uma deterioração nas consultas médicas e "não fazer" consome mais tempo que "fazer", isto é, não solicitar exames nem prescrever medicamentos de validade duvidosa obriga ao médico um esclarecimento a respeito da conduta expectante.

É necessário também voltar os olhos para o passado remoto e lembrar que à arte de curar juntam-se muitos outros ingredientes compostos por crenças e tradições populares que se confundem com as propriedades curativas de muitas plantas silvestres.

As plantas medicinais têm lugar garantido no "folclore" brasileiro. Quem não conhece a babosa, chá de quebra pedra, pata de vaca, chá de picão e extratos de outras numerosas plantas? O efeito da maioria delas é desprovido de qualquer fundamentação científica (evidências) e a sua manipulação por leigos pode comprometer a qualidade. Pretensiosamente pleiteiam uma vaga na chamada medicina alternativa (ou terapia não convencional).

Considerando-se que as doenças psicossomáticas têm grande prevalência, permite-se até admitir que as chances de erro ao trilhar por este comportamento são pequenas, alegando-se que os produtos disponibilizados, em sua maioria, não oferece grandes riscos. Contudo, os riscos existem e devem ser considerados. Produtos sem o devido controle de qualidade como prosaicos cosméticos aplicados sobre o couro cabeludo mostraram efeito teratogênico, devido a contaminação por chumbo.O uso tópico não é isento de efeitos indesejáveis. Cremes "rejuvenescedores", muito populares, podem causá-los, além de quase nunca cumprirem o prometido.



Recentemente, o misoprostol, de uso muito comum entre as mulheres brasileiras para a prática abortiva, chamou a atenção da comunidade científica internacional desde que se observou associar-se a malformações como a Síndrome de Möbius (malformação crânio-facial) e malformações de membros. Estas foram observadas nos filhos de pacientes que tiveram o abortamento frustrado com a utilização desta droga. Além dessas anormalidades, em um estudo colaborativo latino-americano de 4673 casos de malformações fetais (4980 controles), outras malformações foram atribuídas ao uso do misoprostol: artrogripose, hidrocefalia, holoprosencefalia e extrofia de bexiga.

O uso das isoflavonas é um exemplo atual da indicação imprópria e exagerada de agentes ditos "homeopáticos" ou "naturais". A partir de estudos que mostram uma menor sintomatologia de climatério em mulheres asiáticas atribuída ao consumo de soja, muitas mulheres começaram a utilizar comprimidos de soja sem controle de qualidade e sem supervisão médica. O uso indevido de isoflavonas, manipuladas de maneira no mínimo descontrolada, tem causado efeitos colaterais importantes e alterações discrásicas sanguíneas.

Além disso, recentes estudos mostram que uma série de substâncias ditas "inocentes", como cremes de ginseng, têm ação proliferativa endometrial, podendo levar a quadros hiperplásicos que algumas vezes podem representar lesões precursoras de adenocarcinoma.

A automedicação pode mascarar diagnósticos na fase inicial da doença. 

Exemplo marcante é no diagnóstico de apendicite aguda. O doente inicia com um quadro frusto, se automedica com antibióticos. Como conseqüência, a apendicite aguda em fase inicial, que se resolveria com uma apendicectomia tecnicamente fácil, pode evoluir para um quadro de peritonite grave com consequências às vezes funestas.
Do mesmo modo, neoplasias gástricas e intestinais podem ter diagnósticos mascarados e retardados pela melhora de sintomas promovida por bloqueadores de bomba de próton ou outros medicamentos que agem no tubo digestivo.
Outro exemplo relevante é o uso abusivo de antibióticos, sem qualquer critério. Além de freqüentemente ser desprovido de eficácia, pode facilitar o aparecimento de cêpas de microorganismos resistentes, com óbvias repercussões clínicas e prognósticas.(este tipo de medicamento já é proibida venda sem receita médica)

Embora deva ser veementemente combatida, não há nenhum gesto objetivo para o desestímulo à automedicação por parte das autoridades públicas no contexto nacional, o que faz pressupor não ser este assunto de relevância na visão dos órgãos responsáveis. Todavia, há que se louvar a atitude e o discernimento do Ministério da Saúde em decretar o controle de inúmeras drogas seguramente teratogênicas como a talidomida, a isotretionina e diversos quimioterápicos.

O problema é universal, antigo e de grandes proporções. A automedicação pode ser considerada uma forma de não adesão às orientações médicas e de saúde. Nesse sentido, Hipócrates já sentenciou: "Toda vez que um indivíduo diz que segue exatamente o que eu peço, está mentindo". Não há como acabar com a automedicação, talvez pela própria condição humana de testar e arriscar decisões. Há, contudo, meios para minimizá-la. Programas de orientação para profissionais de saúde, farmacêuticos, balconistas e população em geral, além do estímulo a fiscalização apropriada, são fundamentais nessa situação.


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